Discípulo do Mestre de Nazaré e também escritor, articulista, professor e administrador (detalhes).

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O caráter eterno e sobrenatural da Unção

"azeitona inteira não produz azeite, não serve para Unção"
A Unção sobrenatural é um dom de Deus. E como dom espiritual, a Unção se traduz em poder de cima, concedido para operação de milagres e maravilhas nos dias atuais, além de capacitação para determinado ministério. No Velho Testamento vemos a Unção sendo derramada sobre a cabeça de pessoas especiais, separadas por Deus para cumprir alguma missão específica, como sacerdote, juiz e rei. O exercício de determinadas funções ou cargos (religiosos ou civis) não podia prescindir da Unção. A função sacerdotal é a mais antiga na história do povo de Israel, pois desde a saída do Egito, ainda no deserto, Deus ordenou a Moisés que separasse a casa de Arão para o ministério no tabernáculo. Depois vieram os juízes, homens e mulheres levantados por Deus para trazer o povo à obediência aos mandamentos (aliás, sendo esta a única forma de preservação possível da nação). Mesmo depois, na monarquia, a Unção era um rito imprescindível. Samuel, o último dos juízes, foi quem ungiu tanto a Saul, como a Davi, para serem reis sobre Israel. Mas note-se que mesmo Saul tendo sido rejeitado por Deus, Davi o respeitava como "ungido". Neste sentido, como dom sobrenatural, a Unção é dada sem arrependimento ("Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis" - Romanos 11:29).

Quando o apóstolo Paulo fala que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente (2 Coríntios 4:17) mostra o caráter permanente da glória que é concedida a quem é provado e aprovado. Ora, fazendo um paralelo da tribulação (ou prova) com o processo de extração do azeite, fica claro que o produto do esmagamento da oliveira é o precioso líquido que era usado como óleo da Unção. Por outro lado, podemos deduzir que azeitona inteira não serve para Unção. Interessante o paralelo que podemos extrair desse texto bíblico: a prova tem tempo de início e de término, mas o resultado tem conotação de eternidade. Em outro paralelo (2 Coríntios 4:7) o vaso é de barro (matéria terrena, passageira, de pouco valor em si mesma), mas o tesouro que ele contém (a excelência do poder de Deus) é eterno.

Da mesma maneira, os dons espirituais neste período do Novo Testamento são compartilhados à Igreja pelo Espírito Santo da forma que lhe apraz (e sem arrependimento, porque Deus não se arrepende e nem toma decisão errada). A Unção, neste nosso tempo, é, portanto, o dom que o Espírito concede a cada um, para o que for útil. Mas quem escolhe o vaso e dá o dom é o Espírito Santo. Ninguém toma para si esta honra, se Deus não o chamar, ou se o Espírito não o conceder. Não obstante, ainda assim, alguns não valorizam o dom espiritual, optando com suas ações e pérfidas intenções, por pisar o Filho de Deus, profanar o sangue da aliança e fazer agravo ao Espírito da Graça (Hebreus 10:29). Esses terão de prestar contas a Deus (que Deus cuide deles). Mas nada disso invalida o caráter superior e eterno dos dons e da vocação celestial. Como assim? Como lidar com essa aparente contradição? Voltando ao Velho Testamento, podemos perguntar: Será que Deus errou na escolha de Saul? Não, com certeza. O erro sempre esteve na escolha do povo de Israel em querer para si um rei, seguindo o modelo dos povos vizinhos. Deus simplesmente assentiu com o pedido do povo, ainda que a intenção por trás do pedido implicava em abandonar o governo teocrático até então vigente. Na verdade, o rejeitado foi Deus (e, junto com ele, seu profeta, Samuel). Apesar de todo o equívoco dessa escolha, Deus permitiu que Samuel conduzisse a transição, mas mesmo o melhor dos homens, uma vez feito rei, estaria sujeito à sua própria vaidade, aos seus equívocos humanos, ao ciúme, ao desejo de preservar a todo custo o poder adquirido. Deus orientou o profeta Samuel que ungisse a Saul como rei, capacitando-o para o exercício daquela função, mas pela sua fraqueza - mesmo capacitado - Saul se deixou enganar pelo seu insensato coração. Resultado? Deus o rejeitou e ordenou que Davi fosse ungido no seu lugar. Fechando este raciocínio, ratificamos que o dom é eterno, mas o vaso é de barro e está sujeito à sua própria condição de falibilidade ou fraqueza inata. Sendo assim, o vaso pode até quebrar, perdendo a serventia, porém a Unção não se perde, ela passa adiante, a outro que dê continuidade ao propósito. E por que é assim? Porque aprouve a Deus que assim fosse, para que fique claro que quem opera as obras é Deus, segundo a sua soberana vontade, e que a glória divina jamais será dada a outrem."Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei"(Isaías 42:8a).

Mas a Unção sempre cumpre o seu propósito! Ainda que o homem se perca na sua própria fraqueza, ou se torne réprobo, Deus permanece fiel. Veja que, mesmo o profeta tendo anunciado algum desígnio divino, se ele se desviar ou tornar-se infiel, ou mesmo que morra, o desígnio anunciado - enquanto a Unção o inspirava - permanece de pé! É o caso retratado na Bíblia do homem de Deus que foi enviado a Jeroboão (Capítulo 13 de 1 Reis) para profetizar contra o altar. O homem de Deus foi iludido pela falsa oratória de um profeta velho e acabou morto por um leão no caminho de volta. Mas a palavra que ele profetizou permaneceu de pé: "Porque certamente se cumprirá o que pela palavra do Senhor exclamou contra o altar que está em Betel, como também contra todas as casas dos altos que estão nas cidades de Samaria" (1 Reis 13:32). "Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" (Isaías 55:11).

Finalizando, precisamos valorizar aquilo que tem valor de verdade, a despeito das aparências ou da lógica humana, respeitar a Unção na vida de cada vaso escolhido pela soberana vontade de Deus e preservar em nossas próprias vidas o que temos recebido da parte do Espírito Santo. A Unção não se engana, não se confunde, não se limita, não enfraquece, não erra o alvo, não perde eficácia, não emite palavra falsa, não se dobra aos desejos e vontades do vaso ou do profeta, não se esgota, não produz confusão, não tem propósito contraditório. Quando olhamos para o vaso de barro, vemos fraqueza e pouca beleza. Quando olhamos para o seu conteúdo, se há azeite, vemos a glória de Deus!

O Alerta de Amós, o profeta boiadeiro

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2 De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniquidades.
3 Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?
4 Rugirá o leão no bosque, sem que tenha presa? Levantará o leãozinho no seu covil a sua voz, se nada tiver apanhado?
5 Cairá a ave no laço em terra, se não houver armadilha para ela? Levantar-se-á da terra o laço, sem que tenha apanhado alguma coisa?
6 Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá algum mal na cidade, sem que o Senhor o tenha feito?
7 Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.
8 Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o Senhor DEUS, quem não profetizará?
(Amós 3:2-8)


Até hoje eu entendia de forma um tanto incompleta esse texto (acima transcrito) de Amós - o profeta boiadeiro. Ainda não entendo tudo, mas o contexto sempre traz mais luz à correta interpretação. O profeta vem proferindo, ao longo dos capítulos 1 e 2, juízos contra todos os povos circunvizinhos de Israel, até que - a partir do versículo 4 do capítulo 2 - o próprio povo escolhido é confrontado com o seu pecado (agindo de forma análoga aos outros povos citados pelo profeta). Ora, se Deus não faz acepção de pessoas, por que deixaria de punir o próprio Israel, enquanto nação escolhida e instruída pelo Senhor? Claro está que uma nação (ou conjunto de famílias) que recebeu como dádiva a Palavra de Deus deveria, mais do que as outras, praticar aquilo que perante Deus é reto e agradável. Agindo de forma iníqua, a nação de Israel, no período que antecedeu o cativeiro assírio, mostrava-se merecedora da punição prenunciada.

Pela boca do profeta, Deus destaca a exclusividade do povo que havia sido separado para portar um testemunho íntegro do caráter divino. Porém, Israel falhou. Deixou de andar segundo o conselho de Deus. Quebrou a comunhão com o Todo-Poderoso. Então - nesse exato contexto - Deus pergunta: "andarão dois juntos se não estiverem de acordo?" O Soberano está dizendo que não vai dar mais para caminhar junto de um povo que não está em acordo com ele, que quebrou a aliança, que desprezou o privilégio de ter conhecido de forma tão especial a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

A sequência de questões que se seguem são uma obra de arte e ao mesmo tempo de incontida sabedoria. "Rugirá o leão no bosque, sem que tenha presa?" (versículo 4). Por analogia com o versículo 8, percebemos que esse leão é o próprio Senhor do Juízo, que está rugindo pela boca do profeta, e que a presa é quem se fez culpado, ou seja, a nação israelita. Em outras palavras, o juízo já fora determinado. Israel se fizera presa. O leão não rugiria à toa ou por nada. E o leãozinho? A quem podemos atribuir esse predicativo naquele momento turvo da história do povo hebreu? Sem medo de arriscar, eu diria que o leãozinho seria o rei da Assíria, levantado por Deus como o executor do juízo divinamente predito. Podemos dizer que o leãozinho jamais tocaria na presa, sem que Deus o permitisse. Fora as situações probatórias, quando alguém (indivíduo, família ou nação) anda de forma agradável diante do Senhor o inimigo não lhe toca. Mas quando as iniquidades dominam, a punição alcança a todos, sem distinção. E Israel estava prestes a sentir isso na sua própria pele.

Outra pergunta: "Cairá a ave no laço em terra, se não houver armadilha para ela?" O que está sendo reforçado aqui é que a armadilha já fora armada. O pecado do povo excedera os limites fixados por Deus. Quem era a ave? Novamente, de forma análoga à presa, a ave é o povo de Israel. O laço estava na terra, mas era o Deus do Céu quem havia agido para punir os que se fizeram culpados. Nada acontece na terra sem que Deus o determine ou permita. Jesus disse que até os fios de cabelo da nossa cabeça estão todos contados - ou seja - nada passa despercebido diante do Soberano. E o pecado de Israel também não fora ignorado. "Levantar-se-á da terra o laço, sem que tenha apanhado alguma coisa?" O que podemos entender desta pergunta complementar? Haja vista que Deus não está sujeito à dimensão "tempo" como nós, o futuro é hoje. Na sua presciência, Deus deixou claro que o laço já tinha pegado a presa (ou a ave). Na verdade, a palavra do profeta não desviaria o povo do seu mau caminho e, como consequência, Israel seria pego na fatídica armadilha.

"Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá?" Aqui, um pouco de história nos ajuda a entender a mensagem. Nas cidades daquela época, o toque da trombeta podia ter vários significados, sendo ouvido em várias situações, mas aqui - no texto - era o sinal de ataque inimigo ou perigo confirmado, confronto, guerra. Fazendo uma analogia com os dias de hoje, podemos nos referir ao sinal da sirene dando o alerta de desmoronamento para quem reside nas encostas perigosas do nosso país tropical, sujeito a tais calamidades. Quem não tremerá diante do alarme? O que se pretende aqui, na boca do profeta, é deixar claro que o inimigo já estava às portas. O juízo era iminente. Havia motivo real para que todos estremecessem!

E, finalmente, a pergunta mais enigmática ou mais elucidativa, dependendo de como a interpretamos: "Sucederá algum mal na cidade, sem que o Senhor o tenha feito?" Ora, com relação ao povo de Deus, nada acontece sem a mão de Deus. Tudo o que estava acontecendo era de fato provocado pelo Deus soberano, enquanto justo Juiz. Não era o rei estrangeiro da Assíria (ou de outro império mundial qualquer) que estava agindo por conta própria. Não! Muitas vezes nós não vemos Deus nas circunstâncias, como se as coisas acontecessem de forma autônoma ou aleatória. Ledo engano. Toda ação gera uma reação (proporcional). Toda consequência tem sua causa. Nenhuma condenação injusta prevalece diante de um Deus que julga e peleja com justiça. Mas esse Deus justo é também misericordioso quando o pecador se arrepende, quando a nação acerta o seu caminho, quando o orgulhoso se humilha e pede perdão. Havia somente uma escapatória! Reconhecer que Deus é quem estava agindo e reatar o acordo, a comunhão, a fidelidade ao Todo-Poderoso. O conserto de atitudes era o único jeito de andar lado a lado com um Deus Santo.

No versículo 7, o texto deixa claro que Deus se compraz em revelar suas intenções não para consumar a destruição, mas para abrir uma porta de oportunidade e de escape. Não obstante as revelações trazidas pela boca do profeta, o povo persistiu no erro. Faltou a atitude que se espera de quem reconhece e deixa o seu pecado. Sendo assim, o rugido do Leão, no versículo 8, deveria ter sido levado a sério. Se Deus levantou o profeta Amós para falar em nome dele, claro está que deveriam temer a Deus e buscar veredas direitas para os seus pés. Pelo dito, não faltou aviso. Os alertas de Deus chegaram, mas a família não se reconciliou com o Pai do Céu.

Que possamos agir diferente. Que demos crédito ao aviso dos profetas. Que consertemos o nosso caminho. Que reatemos o acordo. Que ouçamos o alerta. Que resgatemos o temor a Deus, o único que pode de fato, pesar a mão ou aliviar o jugo, fazer a ferida ou curá-la, matar ou fazer viver. Deus continua sendo soberano! Ele - só ele - é Deus!